Pós-doutor em Ortodontia, Consultor Editorial do Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e Professor do Excelência na Ortodontia.
Alguns pacientes ortodônticos apresentam uma abertura de espaços durante o nivelamento e alinhamento inicial. Às vezes, esse espaço não existia ou era de tamanho menor; mas, sem dúvida alguma, essa abertura pode gerar um aumento no tempo de tratamento ou, até mesmo, gerar um desconforto estético no paciente.
É por isso que, se conseguirmos identificar o porquê desses espaços se abrirem, pelo menos em alguns desses casos, podemos tentar impedir essa abertura e tornar o tratamento mais eficiente ou menos incômodo para os pacientes. Inúmeras suposições já foram feitas sobre os motivos pelos quais esses espaços podem se abrir ou não: tipo de braquetes, força dos lábios, prescrição e folga dos fios, etc. Entretanto, acreditamos que há uma explicação mais simples para o que ocorre.
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Durante as fases iniciais do alinhamento, esses espaços podem se abrir devido a uma sobra de fio ortodôntico, que é impossibilitada de correr para posterior. Quando temos um apinhamento ou uma curva de Spee acentuada, o perímetro do arco se mostra menor do que a soma dos tamanhos mesiodistais dos dentes. Como o fio ortodôntico está preso aos braquetes por vestibular, existirá uma sobra de fio conforme os dentes se alinham e/ou nivelam.
Agora, a pergunta é: para onde vai esse fio que sobra? Existem duas possibilidades: 1) ele vai para distal; ou 2) ele vai para mesial. Se o fio “quiser” deslizar para distal, os espaços não se abrem; agora, se o fio “quiser” deslizar para mesial dos dentes, os espaços podem se abrir.
Sabemos que o aumento de atrito aumenta a resistência ao deslizamento e, portanto, sabemos que ele está envolvido. Também sabemos, com base em um artigo anterior (baixe aqui na íntegra!), que a deflexão dos fios causa os travamentos que produzem os espaços necessários para o alinhamento e que, com a diminuição dessas deflexões, a resistência ao deslizamento diminui e o fio pode deslizar. Comparem as figuras abaixo, publicadas nesse mesmo artigo, tiradas com 30 dias de intervalo. Percebe-se que o fio deslizou somente pelo lado direito, onde havia pouca irregularidade, pouco travamento e menos resistência ao deslizamento, enquanto ele não deslizou pelo lado esquerdo.
Agora, imaginem uma situação clínica na qual há uma irregularidade razoável e que, com o alinhamento, ocorre uma “sobra” de fio. Se não houver condições do fio deslizar para distal, devido a uma grande irregularidade posterior, o fio irá projetar os dentes desnecessariamente e os espaços se abrirão. Caso o fio possa deslizar para posterior, o potencial de espaços se abrirem será menor. Sabendo disso, o ortodontista pode escolher, em determinadas situações, não passar o fio por todos os tubos ou braquetes, diminuindo as deflexões que impediriam o fio de deslizar.