por Victor Duarte Faria, Jornalista do Metro Jornal Maringá e da Band News FM Maringá;
Rodrigo Ricci Vivan, Professor Doutor do Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Odontológicos da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo (FOB-USP) e editor-chefe da Dental Press Endodontics (DPE);
Marco Antonio Hungaro Duarte, Professor Titular do Departamento de Dentística, Endodontia e Materiais Odontológicos da FOB-USP e editor-chefe da DPE.
*Texto originalmente publicado como editorial da Dental Press Endodontics (V8N1)
Estamos presenciando, nos dias de hoje, muitas postagens em redes sociais sobre protocolos e condutas clínicas a serem empregadas em pacientes por profissionais agindo como se fossem professores, disseminando suas crenças; porém, sem fundamentação científica e apregoando o que eles fazem como a verdade absoluta e o caminho correto para o sucesso nos tratamentos endodônticos e odontológicos.
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Estipulam procedimentos simplistas, como se exercer a Odontologia e a Endodontia fosse um procedimento fácil e simples de realizar.
Publicações sobre como realizar o tratamento endodôntico de molares em 50 minutos — tratando do procedimento como se estivéssemos em um autódromo e quem finalizasse o tratamento mais rápido sairia vencedor — desconsideram de forma irresponsável a saúde do paciente e o bem-estar humano. Talvez, estejamos vivenciando uma grande irresponsabilidade pedagógica e o ego, falando mais alto do que o bem-estar do próximo.
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Perdoem-me as almas da facilidade e praticidade, mas eu estudei. Não, não sou contra as praticidades, mas, desde pequeno, eu aprendi que o caminho mais fácil quase nunca é o correto. Então, fui atrás de ciência. Mas, afinal, o que é ciência?
Alguns podem dizer que ciência é dificuldade transvestida de protocolos inacabáveis. Ledo engano dos que bradam em litígio das retóricas sofistas, em práticas que se alicerçam apenas em crença alheia. Perdoem-me esses tais. Privar-me-ei de discussões inócuas e colocarei em evidência aqueles que ouvem sem medo da dor. Afinal, a dor não é necessariamente ruim. A evolução vem em períodos de dor e crise — e quem conhece a penicilina sabe muito bem disso.
O método científico não é infalível. O que podemos garantir a qualquer pessoa que faça determinado tratamento, ou que consuma algum remédio, é que esse protocolo foi testado incansavelmente. Na base empírica, sabemos que diminuem as margens de erro.
Ciência, por bem dizer, pode levar uma alcunha composta: responsabilidade. O sobrenome você pode dar: ética, social, moral ou profissional. Mas o que faz com que as pessoas não tardem a pular procedimentos e inocular no público os mares do absurdo?
A facilidade e o jeitinho — muitas vezes — brasileiro. Pular protocolos otimiza tempo e aumenta lucro, de maneira inversamente proporcional ao cuidado do paciente.
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Não sou contra a fé ou a crença. Já dizia Mario Sérgio Cortella, “Ciência é ver para crer. Fé é crer para ver. Mas elas não são necessariamente excludentes entre si”. A fé só não pode cegar o público, que clama pelo fácil e prático.
De praticidades, resta todo o resto, e é com o resto que a gente se diverte.